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DESABAFO 
ou 
Atualização de Flor 

Este romance narra a jornada de uma mulher que se reconhece como personagem de um livro clássico de Jorge Amado. É nessa identificação que ela busca a sua própria voz. Esposa de um médico "de cabeça", dividida entre dois amores, a protagonista guia o leitor pela complexidade da mente e pela recuperação do prazer.

A meia-idade e seus afetos — os desejos, o erotismo, e pequenas compreensões rizomáticas de uma realidade menos individualizada — são algumas das contradições e tentativas de descolonização de pensamentos que este romance-corpo deseja habitar.

 Ler para escrever, escrever para existir.

O professor e crítico Antônio Candido observa que a escrita de um povo se estrutura a partir de um sistema literário. Leitores se transformam em escritores que alimentam novos leitores que se transformam em novos escritores, num movimento constante e ininterrupto. Assim, todo escritor é um leitor que preenche ou esvazia lacunas alheias na fabricação de seu próprio texto.   Operação delicada e perigosa, já que o escritor se põe e se expõe nas lacunas que enxerga no texto do outro para repeti-lo, completá-lo ou rasurá-lo e quiçá produzir um texto que há de merecer ser igualmente completado.

Simone André ousa escrever nesse fio da navalha em seu Desabafo ou Atualização de Dona Flor. Leva-nos a percorrer uma longa jornada no universo feminino, atravessando uma vasta biblioteca de referências sobre o lugar atribuído às mulheres na sociedade patriarcal. Um corpo sem alma? Uma alma perdida, apenada, a cuidar de outra alma e de outro corpo? Um objeto refém do prazer que precisa oferecer a qualquer custo? Em Dona Flor, de Jorge Amado, a busca por Vadinho é a busca da condição que é legada às mulheres? E, essa condição, existe, essencialmente? E o estranhamento que o Dr. Botica causa ao universo de Dona Flor? Até que ponto o discurso e a práxis do farmacêutico inauguram nela e para ela novas possibilidades de ser o que nunca pensou ou imaginou?

 Se Simone André se debruça sobre essas questões, também costura outras reflexões ao colocar em cena uma Dona Flor que cozinha e vende quentinhas, 59 anos depois de lançado o livro de Jorge Amado e um século depois da ambientação da história de Jorge Amado. Em que contexto vive essa nova Flor? Um século depois esse trisal sobrevive? Que conflitos são pautados por Simone entre saber cientifico e saber cultural?  

A narrativa de Simone André é complexa e nos faz muitos convites. Dentre eles, dois são imprescindíveis: É preciso reler Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. Mas, é preciso, também, visitar essa Dona Flor do século XXI, que confronta razão e emoção, saber e sabor e inaugura um entre lugar possível nesse palco de tensões em que nos encontramos. O Desabafo de Simone André é leitura necessária, já que corresponde, em grande parte, ao desabafo de inúmeras mulheres do século XXI que seguem na luta por equidade, sem perder a ternura.

Gloria Vianna é escritora, critica literária, mestre e Doutora em Letras. Ex-professora da UFRRJ e da UERJ, é professora titular do Colégio Pedro II.  

Xilogravura do Artur Soare @artur.soar

Xilogravura de Artur Soar @artur.soar

Simone R B André

MEI CNPJ 31.124.814/0001-61

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